Passados 4 dias, cheguei eu ao facebook.
Deparo-me com esta situação: o meu pai publicou um vídeo no meu mural.
Quando vi, pensei que fosse para eu me rir, mas não, não era, ele tinha mesmo publicado um vídeo intitulado ''ser feliz é simples'' no meu mural do facebook.
Há muitas coisas que eu tolero, como quando ele publica cenas estúpidas no meu mural, ou põe na net fotos minhas em que pareço um mutante, mas aquilo não.
O problema do meu pai é que acha que eu quando não estou a sorrir, estou triste.
Pois bem, se fossemos a seguir essa lógica, eu nunca o vi feliz.
Quando vi o titulo do vídeo, nem me dei ao trabalho de o abrir, apaguei logo a publicação.
Mas eu vou-vos explicar o quase-de-certeza porquê daquele vídeo no meu mural.
Na noite passada, eu e o meu pai discutimos.
Eu juro que vi a porra da malga da sopa a andar, eu vi o que vi, ponto.
O problema é que, de acordo com ele, não houve nem um movimento.
(Já estão a ver a situação...)
Depois de eu lhe dar a razão, ele ainda goza comigo. Puxa a toalha e diz assim, para a minha mãe:
-O que é que se mexeu, a toalha, ou a malga?
E a minha mãe responde:
-A toalha.
-Então, é impossível a malga mexer-se, certo?-disse o meu pai.
E após isto, lançou uma gargalhada muito alta em decibéis, e muito alta em estupidez.
Eu sei que ele é meu pai, mas às vezes não sei o que é que me apetece fazer-lhe.
E então, o meu pai pensa que eu penso que não sou feliz.
Não pai, eu sei que sou feliz, mas tal como o mar, também tenho os meus dias de revolta.
Um dia, em português, tivemos de fazer uma carta a pedir desculpas para uma pessoa à nossa escolha...
Adivinhem lá para quem é que eu fiz...
Dia 19 de Novembro de 2012
''Pai, sei que tu tentas esquecer as discussões, aquela manhã em que a mãe te contou aquilo dos comprimidos, sei que tentas esquecer. Sei que nem sempre demonstro que te amo, mas eu amo-te, e bastante, por mais que diga que te odeio.
Peço-te perdão por todas as vezes que te chamei nomes que não gostaste, por todas as vezes que te afastava quando me ias dar um abraço, pelas vezes em que me pedias um beijo e, em vez disso, te dava um estalo. Peço-te que me perdoes se te fiz sentir um monstro, nunca foi essa a minha intenção.
Mas eu estou magoada. Eu sei que te afastei, mas que não devia ter feito tal. Também sei que sou eu que te deixo nervoso, preocupado, zangado. E isso magoa. Ter consciência de que fazes algo errado, e não conseguires mudar... Sei que sabes que sentimento é esse.
Estou a ficar sem energias, na esperança que me perdoes, na esperança que me vejas como tua filha, não como um simples ser humano. Isso dói, sabes?
Mas eu não desisto, e estou sempre à espera de que entendas que mudei, que me dês perdão por fazer certas coisas, mas tu simplesmente não queres perdoar-me.
Eu volto atrás cada vez que discutimos, e lembro-me de nós, a construir a esquadra da polícia da Lego juntos, a mudar-mos aquela porra toda, felizes. E depois lembro-me de quando era pequenita, e tu me trancaste no quarto só com um copo de água, e me obrigaste a ficar lá. E depois lembro-me de quando te ris. E depois começo a chorar. E depois passa a noite e no dia seguinte é como se nada tivesse acontecido.''
Ele nunca leu a carta, nem nunca virá a ler, porque por mais coisas que eu lhe diga, ele é o único que tem razão, ele é o único que sofre, e as outras pessoas são só peças que têm de funcionar como ele quer e deseja, senão a tela fica borrada, e o menino aborrece-se.
Sabes pai, o que tu me dás a entender, a cada dia, é que não és feliz.
Mas tu és feliz.
Só não o sabes ver, pois estás mais preocupado com a tela que construíste mentalmente.
Acho que sem mim e sem a mãe, a tua tela estaria melhor, porque estaria em BRANCO.
Sem erros, sem borrões, sem linhas fora do sítio. Só tu e um grande VAZIO.
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